Meu encontro com o Mestre Luiz Campos.





Quando li pela primeira vez os cordéis do poeta Luiz Campos, de cara me apaixonei pela sua literatura, fui apresentado pela montagem do grupo arruaça de teatro que estudava a possibilidade de montar cincos cordéis do autor, montamos de fato os cinco poemas do Mestre Luiz Campos, a partir dai, estreitamos os laços artísticos com esse poeta genial do qual nos honrou com sua presença na estreia, sem desmerecer tantos outros poeta e repentista do qual tenho o prazer e a honra de ter conhecido, como é o caso do amigo Paraibano Abdias Campos e do meu querido Jessier Quirino, do qual fomos parceiro de cena, cada um com sua particularidade. Luiz Campos foi para mim um encontro de muitos anseios unimo-nos pela força da arte e da expressão forte dos seus cordéis, estreie na poesia apesar de não ter o dom da escrita, estreei interpretando um boêmio, um conquistador, um arquétipo bem conhecido do cordel de Luiz Campos especificamente na "Tragédia da minha vida" uma história de grande emoção e comoção, um verdadeiro clássico da literatura de cordel, outros cordeis são um tanto melódicos, outros recheados de humor como no caso do cordel "me enganei com minha noiva". Então, dando sequencia ao meu story board escrevo um pouco das minhas impressões. Aparti daí ficamos mais “chegado” ao ponto de tomar uma lapada de cana no bar do negão, confesso que Luiz só me acompanhou com seu conhaque, pois a idade já não mais lhe permite certos hábitos da juventude boemia que Luiz levou, e que, por horas, ainda leva, só que com mais suavidade. No ultimo dia 14 de março foi o dia  da poesia.  Então reescrevo aqui minhas impressões sobre esse mestre vitalício da poesia popular, o mestre de tantos outros como o poeta Antonio Francisco que dedica a Luiz Campos a sua inspiração para começar a trilhar no ramo da poesia após os 45 anos de idade. Se tornando uma referencia da poesia mossoroense. Luiz Campos foi o precursor da cantoria e da poesia, esse mestre que hoje de idade já avançada e apesar da saúde um pouco abalada continua com inspirações e desejo de fazer poesia. (... vejo poesia em tudo. Muitas vezes faço poesia só pra mim, ao ver pássaros, flores, os campos...) Nesta sexta feira 16/03/12 após ir a sua casa para marcar um encontro com o grupo arruaça, encontrei Luiz campos abatido e como de habito muito só, mas de imediato recebeu-me com muito bom humor e na mesma hora recebia também a visita da amiga Lucinha assistente social que via lhe fazer uma visita a pedido do amigo Crispiniano Neto, foi levado ao hospital para tomar um soro e uma medicação, já no mesmo dia retornou a sua residência e seu estado de saúde ja era bem melhor, comuniquei a augusto pinto sobre o imprevisto, augusto lhe visitou e entregou um presente que o grupo reservou a ele, após fazermos uma apresentação na cidade de caico/RN com seus cordéis, parte do cachê foi destinado a esse presente. outro momneto marcante que me lembro com satisfação foi o encontro com Luiz campos na entrega do registro do patrimônio vivo da cultura popular do qual ate hoje Luiz Campos reclama do atraso do recebimento desse premio, dificultando a vida financeira deste poeta que tanto contribuiu para a cultura do RN, (...Nunca recebi ajuda de nada. Eu tenho amigos em Mossoró que se esforçam por mim. Mas o poder público, não. ...) palavras de desabafo do poeta ao ser questionado das ações do governo sobre a sua situação. Mas em fim, foi um momento histórico para mim e concerteza para o grupo arruaça, estávamos ao lado do mestre Luiz campos e do querido amigo e poeta Antonio Francisco, estavamos todos  indo a capital do estado para acompanhar e fazer uma homenagem  a Luiz campos, tudo junto e misturado na mesma Van. Tive também honra de dirigir um documentário sobre Luiz Campos em 2010 através do projeto Mossoró Áudio Visual uma experiência indescritível pois colocamos na telinha seus cordéis e um pouco dos seus "gritos" pela melhoria da cultura da poesia. Abaixo segue uma entrevista concedida ao jornal o Mossoroense. Por tudo isso, esse mestre será eternamente lembrado pela sua trajetória, embora o poder publico não o faça, nós artista, seremos sempre agradecido e honrado em te-lo como nosso grande mestre da poesia popular.


Luiz Campos?



(Eu fui um batalhador pela literatura de cordel. Tenho muito amor pela poesia, escrever poesia, tudo na minha vida tem que ter poesia. A poesia está em todos os momentos da minha vida. Infelizmente, a minha mágoa é que não dá pra viver da poesia. Pra vocês verem como a poesia está em tudo, hoje eu moro só...)



 (... Entretanto, até bem pouco eu vivia com uma mulher que se encostou, talvez, por interesse. Quando ela viu que o dinheiro da Fundação José Augusto não estava entrando, ela me deixou. Aí eu fiz uma quadrinha em oferecimento a ela, que diz: “Nosso amor foi um aborto/ Antes de nascer morreu/ E devido nascer morto/ Por isso que não cresceu”. Depois ela quis voltar e eu não quis mais ...) (risos). 

(... “Eu sou um ser que surgiu/ Do ventre de uma senhora/ Quando eu nasci ninguém riu/ Quando eu morrer ninguém chora”. Amigos, poesia pra mim é tudo.) 


Luiz de Oliveira Campos nasceu em Mossoró aos 11 de outubro de 1939, Luís é considerado como um dos maiores poetas da região. Hoje, apesar dos sérios problemas de visão ele não perde o bom-humor nem a verve poética.

Entrevista concedida ao Jornal O Mossoroense.


OM - Você começou o seu trabalho como cantador ou como cordelista? 

Luís Campos - Comecei como cantador. A primeira cantoria minha foi em Pedreiras, no Maranhão, no dia 7 de setembro de 1963. Eu saí daqui como rico, eu tinha um comércio, mas quando eu cheguei em Pedreiras eu alisei. Então eu disse: "eu vou me recorrer ao que eu sei". Naquele tempo eu já tocava umas moda de viola, então eu pedi um violão emprestado a um xará meu, mas ele disse que não podia emprestar, mas se eu quisesse ele alugaria, então eu aluguei por cinco cruzeiros. Adaptei as cordas e fiz a minha primeira cantoria com Campo Verde, eu tenho muito orgulho em falar neste nome, porque foi com quem eu estreei como profissional. Desse dinheiro que eu ganhei nesta cantoria em comprei a minha primeira viola.

OM - Na sua época, Luís, com quem você cantava?

LC - Eu viajei por dezessete estados. Eu comecei a cantar em Pedreiras e quando eu cheguei aqui, eu recebi como estreante Ivanildo Vilanova, eu viajei muito com o pai de Ivanildo, depois com Otacílio Batista, Lourival Batista, Chico Pedra, Elizeu Ventania, Nestor Bandeira, Justo Amorim, todos estes do Nordeste, mas peguei muita fera por aí.

OM - Quais os destaques da viola naquela época?

LC - Na época em que eu comecei eram os irmãos Batista - Dimas, Otacílio e Lourival - estes três eram nomes nacionais. Depois veio Ivanildo e tomou a liderança, liderou por muito tempo este movimento. Teve também o saudoso Severino Ferreira, que Deus o tenha, estes eram os nomes mais fortes.

OM - Existe alguma diferença entre os cantadores de antigamente e os atuais?

LC - Existe. Para começar antigamente os cantadores andavam a pé. Isso criava uma amizade mais forte. Existia uma fidelidade um para com o outro. Eu por exemplo, tirava uma temporada de quinze dias com Zé Pereira, se alguém me procurava naquele período para eu ir fazer qualquer outra cantoria eu dizia: "não, rapaz, eu estou numa temporada com Zé Pereira" e era assim. Cansei de ir de Aracati para Fortaleza a pé, cantando de praia em praia. Hoje não tem mais isso, a cantoria de antigamente o motivo era o que acontecia na hora, ali. Hoje não, o cantador pega um assunto e eu digo que ele "mecaniza" aquele assunto. Eu fui da época em que os cantadores botavam nos livros, hoje eles estão tirando dos livros. 

OM - Era melhor naquela época ou agora?

LC - Era melhor naquela época. Teve uma ocasião em que eu comprei uma geladeira à vista com o dinheiro de uma só cantoria, hoje não tem mais isso. Vamos ser claros, me perdoem, mas hoje em dia não existe cantoria, existe show. Têm estes festivais, as pessoas vêm de fora e fazem aquela apresentação, aquilo não é cantoria, é show. Eu cheguei a cantar de sete horas da noite às seis da manhã. Eu peguei mais pesado. 

OM - E o cordel, quando você se deparou com o cordel?

LC - Eu escrevi o meu primeiro cordel com oito anos, chamava-se "Zezinho e Aldenora". Na época eu adoeci, tive uma febre, e nunca fui de ficar parado. Então eu fiquei fazendo aquilo e eu tinha um tio que era cantador, quando ele chegou que eu mostrei ele disse: "é melhor do que eu só não sabe cantar". Era um cordelzinho até bonito para idade, mas se perdeu na memória.

OM - Dá para viver de poesia?

LC - Dá. Antônio Francisco está vivendo de poesia. E a gente vende aqui acolá uns cordeizinhos. 

OM - Os nossos poetas são reconhecidos?

LC - Alguns. Mas nós temos muita gente no anonimato. Muita gente boa mesmo. O poder público poderia fazer um trabalho de amparo a esse povo. Eu tenho uns vinte a trinta cordéis publicados por aí mas acho que nenhum político, que é quem deve apoiar a gente, tomou conhecimento disso, nunca leu.

OM - "Me Enganei Com Minha Noiva" é um dos seus trabalhos mais conhecidos, foi gravado por Genildo Costa e Amazan. Como você vê a repercussão deste seu trabalho?

LC - Eu fico muito feliz. Certa vez eu liguei a televisão, coisa de meia-noite e tava lá um camarada recitando este poema... longe. Mas eu nunca fui beneficiado com este trabalho, a não ser a Somzoom Sat que me pagou duas vezes uma ninharia lá, depois parou. E ganho quando eu saio por aí vendendo o cordel.

OM - E o que houve que você não recebeu mais os direitos autorais?

LC - Não sei. Dizem lá que a gravadora fechou, faliu, quebrou, sei lá. Amazan não tem nada com isso, a gravadora é que parou de me pagar.

OM - Você escreveu um cordel chamado "O Meu Caso é um Descaso" onde você fala com um certo rancor de Mossoró, o que houve?

LC - Olhe, tudo que está escrito ali é verdade. Eu trabalhei muito em Mossoró, fiz muita coisa e Mossoró não me conhece. Aquela casa que era de Rosalba, quem emadeirou fui eu. Não sei se está do mesmo jeito. Era uma casa de primeiro andar. Ali eu sofri uma queda que passei dois meses doente. Meu pai tem muitos serviços prestados a Mossoró, foi quem botou aquela cruz da igreja São Vicente, sou combatente contra o bando de Lampião, mas ninguém sabe disso. 

OM - Você atribui isso a quê, falta de memória do povo?

LC - Eu acho que a minha falta de sorte (risos).

OM - Você continua escrevendo?

LC - Escrevendo, não. Eu estou só com três por cento da minha visão. Mas eu guardo muita coisa na memória. Um dia desses eu estava por aqui, fazendo uma brincadeira para uns amigos com a viola, eu e Severino Inácio, era época de campanha eleitoral e parou um desses carros de som no maior volume. Então eu fiz um poema, onde eu peço a Tica, que é a dona do bar, para continuar a cantoria. Diz assim:

Tica me faça um favor
Se acaso tiver me ouvindo 
E diga àqueles cachorros
Que, por favor, tô pedindo
Que vão latir noutro canto
Que aqui já tem dois latindo.

E sexta-feira eu tava cantando lá no Redenção e Severino Inácio me deu um mote dizendo que lá tinha mulher de ruma, então eu fiz este:

Eu também possui uma
Que hoje mora bem ali
Tirei ela de um convento
De freiras do Aracati
Deixou de ser freira lá
Pra ser rapariga aqui.

 Fonte da entrevista: Jornal o Mossoroense / Por Caio César Muniz

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