Quando penso em Belchior ! Por Aécio Cândido
Quando penso em Belchior, penso também, quase sempre, em Dorival Caymmi. Os dois têm uma obra pequena, relativamente, mas composta, toda ela, de obras-primas. Só fizeram coisas grandiosas. Elis Regina tinha um faro fino, apuradíssimo, para reconhecer o que é bom. E reconheceu de imediato o talento caudaloso daquele jovem vindo do Ceará e a qualidade dos seus versos. Gravou, de cara, Mucuripe e Como Nossos Pais. Um artigo da Folha de São Paulo, no dia de sua morte, destaca o caráter de crônica de muitas das letras de Belchior. É isto mesmo. Belchior é um grande poeta porque é um grande cronista. A boa crônica se faz realçando a profundidade do muito simples. O olhar do poeta nos faz ver que coisas muito simples são na verdade muito profundas. E vice-versa. O cronista é um filósofo. Imagine alguém que pondera, com certa angústia, mas com a coragem do enfrentamento: "Deixemos de coisas, cuidemos da vida,/ Senão chega a morte ou coisa parecida / E nos arrasta