Grupo entrega ao prefeito interino carta com apontamentos sobre a política cultural

Alcivan Costa

No Dia Internacional do Teatro, artistas de Mossoró, mobilizados através do Movimento Ventania, entregaram ao prefeito interino, Francisco José Júnior, uma carta com apontamentos e propostas para a política cultural do município. Entre elas, uma das mais polêmicas diz respeito ao espetáculo Chuva de Bala e a mudanças profundas em sua estrutura, bem como no modelo atual de direção.

De acordo com um dos membros do movimento, o ator Dionízio do Apodi, tudo o que foi feito no Movimento Ventania acontece depois de reuniões onde os integrantes avaliam a situação e propõem mudanças ou transformações. “É assim que agimos desde o início de nossas reuniões, no começo de 2012. Para chegarmos aos dez pontos que abordamos no documento foi necessário levar em consideração as lutas que temos desde o início do Movimento, pois a maior parte delas é antiga. A grande verdade hoje é que lutamos para manter alguns pontos que conquistamos, e acabamos não prosseguindo em outras questões”, frisa.

Segundo ele, foram detectados dez pontos comomaiores urgências hoje, para o teatro de Mossoró funcionar, sem que o poder público pelo menos não atrapalhe, como acontece na maioria das vezes. “Resolvemos fazer este documento e abri-lo para toda Mossoró. Não fizemos com intenção de entregá-lo ao prefeito interino, mas de gritar por algo nosso, pelo menos no dia 27 de março, onde os holofotes estariam dirigidos para o teatro. Daí fizemos a nossa programação do Dia Internacional do Teatro (27 de março passado) de forma diferente, levantando as nossas bandeiras de luta, chamando os companheiros e o povo para abrir os olhos para a realidade do teatro mossoroense, que é preocupante, e quem está falando são pessoas que têm conhecimento profundo de tal situação, e não que possuem uma visão de fora, romântica, e de “acho que é assim ou assado”. Nós não achamos que seja assim, nós sabemos que é da forma que colocamos no documento e fizemos questão de procurar o prefeito interino, pois acreditamos que ele já pode encaminhar alguns pontos com urgência, como se comprometeu com o Chuva de Bala deste ano. Se ele cumprir o que disse, será mais uma vitória para a nossa luta”, diz.

CONSELHO MUNICIPAL DE CULTURA

Dinízio salienta que, entre outros pontos, o do Conselho Municipal de Cultura é de grande importância. “Acredito que o Conselho pode mudar, transformar esta forma deturpada, velha e excludente, nos presenteando com uma política cultural que ainda não temos. A grande verdade é que Mossoró não tem uma política, um projeto. O que temos são ações soltas, isoladas, e que não nos levam a um objetivo, a uma meta, pois nossos gestores nunca tiveram esta visão. Com um Conselho atuante, teremos a certeza que tudo que for feito na cultura mossoroense deverá antes passar por dez conselheiros, onde cinco serão indicados pelo poder público e outros cinco eleitos pela sociedade civil. No nosso caso, desde a última Conferência Municipal de Cultura, realizada no ano passado, que temos nossos representantes eleitos, que são, além de minha pessoa, os companheiros Josué Damasceno, Genildo Costa, Joaninha e Aécio Cândido. Acredito na seriedade destas pessoas que foram escolhidas, pois são pessoas de fácil diálogo e por isso sou otimista quanto ao caminhar das coisas. Este Conselho, na atual conjuntura, é um instrumento importantíssimo para democratizar o que é do povo, e acabar com essa forma de administrar, impondo as coisas de baixo pra cima, porque ele tem, inclusive, poder de veto. O nosso Conselho ainda não foi empossado, deveria ter sido desde o tempo de Cláudia Regina, e isso nos dá um prejuízo, pois poderíamos já ter avançado nestes pontos de nossa pauta de reivindicações”, alerta o ator.

Para o momento, a posse do referido Conselho é, der acordo com ele, o que há de mais significativo. “Por ele, tudo tomará outro rumo, e todas as outras lutas serão encaradas de outra forma. Por quê? Porque este novo Conselho, dentro do Sistema Municipal de Cultura, será o responsável por tudo o que possa acontecer na cultura mossoroense. Com a posse dele, nada poderá passar, ser feito pelo município, sem que passe por ele. Não terá como qualquer secretário de Cultura inventar um projeto e colocá-lo em prática, sem discussão. Então, este novo formato vai dar pra equilibrar um pouco as coisas. Mas, enquanto o Conselho não é empossado estamos lutando por uma série de coisas, inclusive clamando pela exoneração de todos os cargos comissionados da Secretaria de Cultura, em que os seus ocupantes sejam pessoas que nada têm com os movimentos culturais. É algo sério isso. Por que temos que manter cabos-eleitorais às custas de nosso trabalho, de nossas lutas? A Secretaria de Cultura existe por nossa causa, então não podemos carregar este piano. Estas pessoas deveriam ser empregadas nas casas de quem os colocam lá, pois prestaram favores pessoais, segurando bandeira, distribuindo santinho, brigando no facebook. Não vejo nada nestas ações que caracterizem mérito para se ocupar um cargo em um teatro, numa biblioteca ou em qualquer outro setor da Secretaria de Cultura”, critica. 

Chuva de Bala, um teatro que precisa mudar

No documento, que está disponível na página do grupo (Facebook), um dos pontos elencados é a mudança no Chuva de Bala. “Todos os que estão hoje no Movimento Ventania, que têm ligação com o teatro, já participaram do Chuva de Bala em algum momento. Não somos contra a realização dele, nunca fomos. Somos contra a forma que ele foi tomando durante os anos, que foi sendo utilizado para perseguir companheiros que não rezavam na cartilha de quem mandava, pois muitos companheiros foram descartados enquanto pessoas sem conhecimento nenhum, mas apenas por amizade com quem detinha o poder do Chuva eram chamadas, ganhando cachês que não podiam”, fala Dionízio.

De acordo com ele, como pode pagar cachê de artista a quem não é artista, enquanto muitos companheiros perdem espaço de trabalho no Chuva, no Auto e em outras ações da Prefeitura? “Outra coisa: a Prefeitura de Mossoró foi cruel com grande parte dos artistas de casa, mas muito boa para alguns poucos de fora. Nós não temos restrição à qualidade que têm um João Marcelino, um talento indiscutível. Mas como podemos ver e ficar calados quando em doze edições do Chuva de Bala, dez foram dirigidas por ele? E se formos para o Auto da Liberdade até o ano passado quando conseguimos tomá-lo para os grupos de Mossoró, era a mesma coisa, com o mesmo diretor do Chuva se repetindo a tantas edições. Por que tanto espaço para uma só pessoa e tão pouco espaço para os que mantêm isso tudo nas costas e pagam tão caro, que somos nós? Artisticamente também entendemos que o Chuva de Bala caía a cada ano, pois deixou de contar com a maior parte de nossos atores mas pagava nossos cachês a qualquer um que aparecesse, passou a se repetir, não tinha grandes avanços porque o espetáculo era o mesmo formato e isso é pobre para o investimento que é feito anualmente”, aponta.

Ele destaca que “o espetáculo tem suas qualidades, mas por que não damos oportunidade para outros pontos de vista, para outras formas de pensar? Acho que a arte pode propor isso, não é? Aí fica parecendo que a Prefeitura de Mossoró é privada. Aliás, na prática é bem isso mesmo. O que nós defendemos é que possamos tomar de conta destas coisas todas, com mudanças de texto, direção e elenco a cada ano, para que se experimente, e possa fazer essa roda girar dando oportunidade para todo mundo. Aqui em Mossoró não se dá a todos o mesmo ponto de partida”, frisa.

MOVIMENTO

No movimento, há pessoas de vários segmentos, só que este último documento foi elaborado para um momento específico relacionado ao Dia do Teatro e por isso congregou apenas as lutas do teatro. “Mas todas as nossas conversas com o poder público levam em consideração outros segmentos artísticos que participam de nosso Movimento, como artes plásticas, dança, quadrilhas juninas, literatura, música. Nunca pensamos apenas no teatro, apesar da maior parte das pessoas do movimento serem de teatro, pois temos muitos grupos”, finaliza Dionízio do Apodi, esperançoso de que as mudanças venham logo...

Fonte : Gazetadooeste.com.br

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