Chuva de Bala... na berlinda

Grupos teatrais divergem sobre mudanças na estrutura do Chuva de Bala, e formataçãoda peça é alvo de  críticas



O espetáculo Chuva de Bala no País de Mossoró certamente é um dos mais importantes eventos realizados na cidade. Sua estrutura, cenário e montagem chamam a atenção do Brasil inteiro, atraindo inúmeras pessoas interessadas em conhecer a história e o encanto encenados pelos aproximadamente 150 artistas que participam do espetáculo. Porém, este ano a peça virou alvo de uma intensa polêmica envolvendo grupos teatrais, artistas da cidade e figuras políticas.

Nos últimos dias, informações, boatos e trocas de acusações envolvendo a peça tomaram conta das redes sociais. Algumas pessoas afirmavam que o “Chuva de Bala...” não seria realizado este ano, o que gerou intensa movimentação por parte da população apaixonada pelo evento. Por outro lado, alguns afirmavam que o espetáculo iria acontecer, só que em formato diferente. A reportagem do O Mossoroense procurou os principais envolvidos nessa polêmica para entender porque a peça tão renomada segue em meio a tanta polêmica há menos de um mês para o início das apresentações.

De acordo com o diretor de teatro Dionízio do Apodi, que integra a companhia teatral O Pessoal do Tarará, a polêmica começou quando o Movimento Ventania, que reúne diversos grupos teatrais e artísticos da cidade, reivindicou ao então prefeito interino Francisco José Jr. que a organização e direção do espetáculo fosse feita de maneira coletiva, diferentemente dos últimos anos, quando foi dirigido por um único diretor.
“Apresentamos uma carta ao prefeito no dia 27 de março, discutindo 10 pontos cruciais sobre a arte em Mossoró. Em um desses pontos estava a questão do Chuva de Bala..., e me estranha muito que só tenha havido repercussão sobre esse ponto em específico. O Movimento Ventania tem uma trajetória de cobrar melhorias na cultura da cidade. Os artistas que estão reclamando e se posicionando contra nossa postura infelizmente falam em causa própria”, comentou o artista.

Dionízio explicou que esta alternativa permitiria a democratização do espetáculo e abriria um momento novo no cenário cultural de Mossoró, que ainda vive à margem dos grupos políticos dominantes, distante da população das periferias da cidade, além de dar mais espaço para grupos artísticos que sofrem com a carência de oportunidades em Mossoró.

“Nossa proposta é que o Chuva de Bala... seja como é o Auto da Liberdade. Queremos que o evento seja dirigido por várias pessoas de forma plural. Queremos ampliar o trabalho que está sendo feito e não acabar com ele, como alguns estão falando”.

O artista Américo Oliveira, que compõe o Movimento Ventania, foi enfático nas críticas à forma como o espetáculo vem sendo conduzido. Para ele, alguns artistas estão se privilegiando de apoios particulares vindos do poder público. “Queremos acessibilidade e inserção de artistas novos que não sejam ligados exclusivamente a grupo que tem vínculo com a prefeitura através do secretário de Cultura”, destacou de maneira enfática o artista.

Do outro lado da história, outros grupos artísticos rechaçaram a postura do Movimento Ventania, de intermediar uma mudança na estrutura do ‘Chuva de Bala no País de Mossoró’. Com a hashtag (jogo da velha) #eumerepresento, os artistas divulgaram nas redes sociais críticas à postura do coletivo, e defenderam a manutenção do espetáculo no formato atual.

“Este é um ano complicado para propormos mudanças assim no Chuva de Bala... Temos um trabalho todo estruturado, baseado no ano passado, e acho um grande erro começarmos o espetáculo do zero. Não podemos arriscar, esse é um ano de Copa do Mundo e estamos no meio de duas grandes sedes, mudar algo em cima da hora é um erro”, comenta o ator Jeyzon Leonardo, componente da Cia. Máscara de Teatro, e que atuou no último Chuva de bala...

O ator afirmou que é a favor da democratização da arte em Mossoró, mas que isso precisa ser feito de maneira pensada, com mais tempo e com a participação de todos os grupos que produzem arte na cidade. “Eu moro em um bairro da periferia, sei como é a realidade ali, mas não basta chegar querendo democratizar o teatro, levá-lo para os bairros mais distantes, sem pensar em como organizar e estruturar isso”, completa

Prefeitura garante que apesar dos debates, espetáculo ficará como está

Apesar do intenso debate que tem sido travado nos últimos dias à respeito do espetáculo Chuva de Bala... e a necessidade de uma mudança em sua estrutura e organização, a Prefeitura Municipal de Mossoró (PMM) já dá por encerrado o assunto, confirmando que o espetáculo permanece nos mesmos moldes do ano anterior. Como em todos os anos, o espetáculo acontecerá de 12 a 29 de junho, sempre de quinta-feira a domingo.

A assessoria de Comunicação da Prefeitura, através da secretária de Comunicação, Mirela Ciarlini, confirmou que a peça permanece com a direção de João Marcelino, e que repetirá a estrutura que foi vista em 2013. Ela esclareceu ainda que há o desejo de modificar e democratizar o evento, mas que isso não acontecerá este ano.

“Temos vontade de mudar a forma como o espetáculo vem sendo desenvolvido nos últimos anos, mas não temos tempo para desenvolver isso este ano ainda. Precisamos fazer um trabalho mais apurado, que terá a participação de artistas da cidade, mas que precisa de tempo para ser pensado”, comentou a secretária.

Cláudio Palheta Jr.
Editor do Universo / jornal O mossoroense

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