Um novo tempo, apesar dos perigos!

Um novo tempo, apesar dos perigos!

Hoje pela manha um amigo me perguntou pelo facebook: O Movimento Ventania lhe representa? E não tive nenhuma dúvida ao respondê-lo. 
Evidentemente que sim! Os argumentos que me levam a pensar nisso diz respeito primeiramente ao significado de sentido “representação”. Penso que ninguém pode representar a si mesmo. O significado de representação vai de encontro ao sentido de coletividade, e para que haja coletivos e coletividades se pressupõem que existam projetos, ideias e pensamentos que dão a liga, que junta, que faz com que o conjunto comungue do mesmo ideal. 

O movimento Ventania, quer queira, quer não, gostem ou não, apresenta um projeto, dialoga com um claro e coerente pensamento sobre a cultura na cidade de Mossoró. Divergências pessoais ou desentendimentos com lideranças do coletivo podem haver por diversos motivos e com diversas pessoas, contradições e deslizes, todos cometem ou já cometeram em algum momento, especialmente levando em conta o campo artístico de Mossoró, com um longo histórico cultural ‘rosadista’ impregnado por essas bandas, que por muitas vezes, obrigou artistas a ceder e recair nas armadilhas da lógica, “calar a boca” e evidentemente pelas precárias condições de produção e desvalorização da arte nesta cidade. Quero dizer com isso que não posso jugar colegas artistas que em outros momentos de suas vidas assumiram outras posturas e outros projetos, quero dizer que vivemos um outro, um novo tempo, apesar dos perigos! E isso me interessa. Porque a cada momento podemos fazer da nossa realidade uma nova empreitada, mudar as peças, o jeito, o modo, a forma de fazer e envolver novos atores, novas atrizes, artisticamente e socialmente. Por isso não tenho nenhum medo, nenhum receio, nenhuma dúvida sobre assumir que o movimento Ventania me representa. 

O Movimento Ventania me representa pelo projeto político que apresenta:

A Valorização dos (das) artistas locais;
Não se luta pela simples valorização dos artistas, como se o executivo municipal, pudesse dizer, pronto, agora vocês serão valorizados (as), vamos pagar um cachê digno e assim tudo estará resolvido, não se trata simplesmente de valorização financeira, se luta também e especialmente pela participação nos processos de construção de uma politica cultural na cidade, só assim teríamos garantido a democratização da cultura local. Artistas quer falar suas opiniões, quer fazer debate, quer ser ouvidos, quer criar, quer amar, quer fazer política, artista faz arte quando faz política, faz política quando faz arte. É assim que é, é assim que deve ser.

A mudança na gestão e nas estruturas de fomento a arte local;
Durante muito tempo houve um certo jeito de fazer as coisas na cidade de Mossoró em relação a arte e a cultura, um jeito particular de excluir e tornar os sujeitos submissos a um projeto hegemônico. Um jeito bem conhecido, aquele que vem de “cima pra baixo”. Que nunca representou nenhum artista nem a cultura da cidade, basta lembrarmos-nos do mote inventado pelo “rosadismo” que diz que a cidade de Mossoró é símbolo de resistência e de liberdade, que inventou o memorial da resistência e seus herózinhos de elite, apagando da memória social todo um outro movimento que certamente fez parte da nossa história. Romper com esse projeto ideológico de apresentação de uma cultura elitizada e massificada, que exclui artistas e dissemina uma ideia empobrecida do que deve ser um evento artístico como o “Mossoró cidade Junina”, por exemplo, que usa uma espetacularização massificada traduzida e localizada na Estação das Artes, como principal eixo de entretenimento para o povo da cidade. Mudar esse jeito de fazer é parte da estratégia do Movimento Ventania. Romper com a estrutura desgastada e atrasada de fazer arte e cultura na cidade, incluindo a participação do povo, dos artistas para pensar uma cultura com olhos para o local, inspirados no nosso jeito de ser. 

Um projeto popular da arte e da cultura local; 
O movimento ventania quer que o povo vá ao teatro, vão às praças, entre no universo do acesso a cultura, que o povo tenha oportunidade de fazer cultura. Quantas pessoas (por exemplo) de um bairro periférico da nossa cidade já teve a oportunidade de entrar no Teatro municipal? Um teatro de elite. Feito com dinheiro público, fechado, excludente. Todos e todas devem ter acesso a arte, devem ter a oportunidade de fazer arte se desejarem, uma política de cultura deve servi a todos e todas da cidade, não apenas a uma parcela que consegue chegar ao centro;

Não é assumir a gestão do “chuva de bala” que está em jogo, o que está em jogo é um projeto que é contra hegemônico ao que historicamente se pratica em termos de arte e cultura na cidade de Mossoró, é algo maior, é a possibilidade de mexer nas estruturas da base cultural impostas durante muito tempo nessa cidade, é alterar o modo de fazer, de criar, de imprimir a vida na arte e a arte na vida, é politizar o nosso fazer e o nosso viver. Sejamos fortes! Façamos sim o “chuva de bala” e façamos mais, façamos chover esperança, que se inspire novas práticas artísticas, que se promova a revolução!

Viviana Mesquita.
Cursou Mestrado em Ciências Sociais e Humanas na UERN 
Mossoró 12 de maio de 2014.

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