Os 20 anos da Lei Rouanet Apesar das burocracias e tropeços, a Lei Rouanet tem feito com que vários projetos saiam do papel, mesmo de forma dolorosa


Depois de 20 anos de criação, a Lei Roaunet já teve R$ 9,1 bilhões investidos na cultura. Mas a burocracia tem sido um dos maiores entraves para que grupos de teatro e instituições culturais participem dos editais da lei. "A burocracia é muito grande. Toda lei de incentivo é bacana e esta do Governo Federal é muito boa, mas extremamente burocrática... Assim, desestimula o agente cultural que pretende concorrer aos editais", destaca o editor-assistente da Coleção Mossoroense, poeta Caio César Muniz.
Apesar das oficinas feitas por representantes da lei em algumas cidades, como forma de acabar com as dúvidas, ainda é necessário, na opinião de Caio, mais facilidades para os projetos. "Quando você vê como a coisa funciona, você desiste no meio do caminho. Às vezes, o tempo que leva, quando chegamos ao final, faz com que tudo que você fez já esteja defasado. O tempo é muito grande; a demora, maior ainda e a burocracia é terrível. Qualquer impedimento torna-se inviável", frisa Caio.
Em duas décadas, por meio de renúncia fiscal, o Ministério da Cultura apoiou 31.125 projetos, investindo R$ 9,1 bilhões (dados até 22/12/11). Neste período, ao mesmo tempo em que aprimorou a lei - com diversas instruções normativas - o MinC também buscou propor uma nova legislação, após amplo debate com a sociedade.
O projeto de lei do Procultura (PL 6.722/10) encontra-se na Câmara dos Deputados, na Comissão de Finanças e Tributação. A expectativa é que seja aprovado no próximo ano. 
O modo como a lei atual foi desenhado acabou por concentrar recursos em segmentos culturais - naqueles cuja renúncia chega a 100% - e em regiões que são pólos econômicos, sobretudo o eixo Rio-São Paulo, que detém a maior parte do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. 
No ano passado, por exemplo, dos R$ 1,16 bilhão captado, 77% ficaram no Sudeste, enquanto o Norte do país ficou com apenas 2,3%. Em 20 anos, 67,3% dos projetos que conseguiram captar recursos da lei tiveram origem nesta região.  Assim como houve concentração em uma das regiões brasileiras, o mesmo ocorreu nos segmentos culturais. Em 20 anos, as Artes Cênicas foram as que mais tiveram projetos (6.704) com captação de recursos, enquanto a área de Artes Visuais foi a com menor quantidade (2.324). 
Em janeiro o MinC deve publicar nova IN com algumas mudanças - até o Procultura entrar em vigor. Depois de a nova lei ser sancionada, o MinC tem 180 dias para regulamentá-la. A transição entre uma e outra lei deverá levar entre três e cinco anos, em razão da quantidade de projetos em execução, cerca de 12 mil. "É uma lei muito complexa... se ela fosse fácil, não haveriam tantos outros mecanismos alternativos, como o Agentes de Leitura... o que nós conseguimos com os Agentes de Leitura foi a venda de livros para o projeto. É menos burocrático", comenta Caio César.
Ele complementa, ressaltando que, com o Agentes de Leitura, várias pessoas terão acesso a livros de autores locais editados pela Coleção Mossoroense. "Nossa Coleção só não tem valor aqui na cidade, mas nos outros lugares tem, sim. É só o País de Mossoró que não adota a editora. É uma ironia, pois esta frase é de Vingt-un", diz.

LEI - Quando a lei foi criada, em 1991, o Ministério da Cultura havia sido extinto e se transformado em uma secretaria - assim como outras instituições. O investimento em cultura, por meio de renúncia fiscal, era praticamente a única política de Estado para a área. No primeiro ano da existência da lei foram apresentados 32 projetos culturais e 11 autorizados a captar recursos. Não houve captação de recursos pelos projetos em 1992. No ano seguinte, em 1993, conseguiram captar recursos apenas dois projetos culturais, no valor total de R$ 21.212,78.
Com o governo Lula, a partir de 2003, e a ampliação do conceito de cultura - considerada sob três dimensões (cidadã, simbólica e econômica), houve um boom de investimento no setor, pois o espectro das áreas passíveis de receberem investimento com renúncia fiscal aumentou. No primeiro ano do governo Lula, por exemplo, foram captados R$ 430,8 milhões. No ano passado, o volume chegou a R$ 1,16 bilhão.  
No ano passado, o que foi captado pelo incentivo fiscal atendeu apenas 24,61% de toda a demanda brasileira por esses incentivos, que atingiu o montante de R$ 4,7 bilhões. Nesse mesmo ano, o MinC recebeu  10.256 de ações em busca de recursos, vindo de todos os estados brasileiros.

Postado em 23/12/2011 às 19:25 horas por Cristiano Xavier na sessão Cultura / fonte:jornal Gazeta do Oeste / Mossoró/RN.

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