Café Literário, um momento de ideias

O debate e a troca de ideias voltam a fazer parte do Café Literário, que retoma as atividades no próximo dia 6, às 19h, na unidade do Sesc Mossoró, com entrada franca.


Foto: Publicação da Internet.
Nesta edição de retorno do projeto, o professor, poeta e vice-reitor da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Aécio Cândido, é o palestrante. "Os pontos na cidade ligados ao lazer e ao encontro de pessoas para debater literatura devem se expandir... Isto também deveria acontecer, por exemplo, nas escolas e nas famílias. São poucas as que têm o livro circulando na conversa familiar, por exemplo. Esperamos que as escolas, que têm as disciplinas de Português e Literatura Brasileira, despertem nos alunos um pouco deste gosto e da curiosidade por compreender a linguagem literária", destaca Aécio.
Para ele, a escola pode e deve fomentar a descoberta literária. No entanto, hoje, segundo o educador, alguns professores são pouco apaixonados pelo que fazem. "Quando você é um profissional apaixonado, você transcende e o aluno deseja conhecer ainda mais sobre o que se fala. Não posso achar que apenas variáveis como salário e administrações expliquem essa qualidade das aulas e do ensino na área da literatura. Às vezes, sinto isso na própria universidade. Não vejo, por exemplo, os alunos do Curso de Letras vibrando com os movimentos literários nem com os autores.
 
"Não sei se é porque eu não transito muito pelo curso, mas, sinceramente, não vejo isso", destaca.
 
Aécio salienta que existe uma espécie de apatia e desinteresse por parte dos estudantes. "Você pode dizer que eles estão se preparando para serem licenciados e que a profissão de professor não é muito valorizada no Brasil, mas vejo em outros cursos estudantes mais orgulhosos de sua área, estudantes que vibram com páginas escritas sobre o assunto no qual estão se formando profissionalmente", critica. "Antes, torcíamos pelo debate literário, nos dedicávamos a estudar, por exemplo, o Realismo Fantástico de escritores latino-americanos. Éramos apaixonados pelos existencialistas franceses e grandes autores. Hoje, me entristece e me surpreende, de certo modo, esta apatia... Atualmente, o que gera empolgação entre muitos jovens é o jogo de futebol de um grande time, as músicas de Luan Santana ou outros modismos. Não acho que, com estes modelos, estejamos bem", reflete o professor.
 
'NÓS PRECISAMOS DE UMA ELITE PENSANTE'
 
Pensar também tem se tornado algo raro, em especial, segundo o professor, entre aqueles que poderiam estar fazendo a diferença. "Sou daqueles que acreditam que precisamos de uma elite intelectual. Quanto mais elite, melhor. No Brasil - e isso foi implantado pela própria esquerda brasileira - a ideia da elite foi bombardeada. Hoje, associa-se a elite ao poder econômico e à política, mas precisamos ter uma elite econômica que seja também a elite intelectual. Imaginemos muitas pessoas com dinheiro no bolso e sem nenhuma informação cultural para lidar com isso? É um verdadeiro desastre. Temos meninos que entram na casa dos 20 anos com muito dinheiro e popularidade e não sabem o que fazer com o que possuem. São celebridades que não têm a menor noção de si, não se conhecem e, em geral, vêm de ambientes familiares sem formação alguma. É essa a nossa elite que faz a cabeça da juventude, passando a ser imitada. Baixamos o nível demais", salienta. 
 
O professor destaca que, nesse sentido, é necessário o debate acerca da verdadeira cultura, seja através de encontros ou mesmo de conferências e isso deve começar através da escola. "Hoje, temos uma gama de teorias pedagógicas que se negam a ajudar na intervenção educacional. Para alguns professores, ensinar a disciplina, fazendo com que a pessoa se aplique e obrigando-a a estudar não é permitido. Eles acreditam que é autoritarismo. Ora, estudo é trabalho. Essa construção do homem pela educação dá muito trabalho. Os professores, alguns que conseguem perceber essa problemática, se sentem intimidados, acreditando que não podem cobrar", analisa.
 
Para o sociólogo, a problemática se estende também aos meios de comunicação de massa que, muitas vezes, se omitem na formação de seus leitores. "Muitos jornais estão fazendo com que os suplementos literários desapareçam. Em outros, o colunismo social se alastra. Em nossas folhas há futebol, sangue e política. Mas a expressão humana não se esgota no esporte nem na coluna social", aponta. "Tudo isso, no entanto, está no nosso natural: no natural de violência, quando buscamos a coluna policial e no natural da vaidade, quando corremos para as colunas sociais. O prazer, no entanto, também pode ser conseguido pelo intelecto, pelos livros e pela busca da arte", finaliza.
 
Aécio Cândido é o convidado da edição do evento que acontece dia 6, no Sesc Mossoró, às 19h
 
 
Fonte: Jornal O mossoroense.
 

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