Curador do Festival de Gramado critica qualidade da produção nacional.
"Se faz muito filme no Brasil, mas a maioria é ainda caseiro", afirma.
"É fácil fazer cinema, mas nem todo mundo é cineasta", diz crítico (Foto: Cleiton Thiele/Pressphoto)
Ao lado do ator José Wilker e do jornalista Marcos Santuário, a curadoria apostou em filmes com maiores chances de diálogo com o público, menos "autorais" e de apelo mais comercial. "Gramado é uma cidade turística. A diversidade é a melhor opção", justifica. Na entrevista a seguir, ele comenta os planos para o futuro, caso o trio seja mantido para 2013.
G1 - Como você recebeu o convite para ser curador do Festival de Gramado? Te surpreendeu de alguma forma?
Rubens Ewald Filho - Sim, foi uma surpresa total. Era uma coisa que eu não esperava. Para mim, Gramado sempre me pareceu uma coisa muito gaúcha, um pouco fechada. Me falaram da proposta, com eu, o Wilker e o Santuário, e achei interessante. Até porque as pessoas acham que nós somos inimigos, o que não é verdade. Trabalhamos juntos, temos uma relação próxima, somos amigos. Falei: "essa mistura pode dar samba" e topei. Vamos ver agora o resultado. Acho que a gente fez o melhor possível diante das regras e do pouco tempo que a gente tinha.
G1 - O Festival de Gramado está comemorando 40 anos. Qual a importância do festival para o cinema brasileiro nos dias de hoje?
Rubens - É muito difícil vir a Gramado e não criar uma relação emocional com o festival. Eu já vim acho que umas 15 vezes, desde a quarta ou quinta edição. Também cobri para várias emissoras e sempre tive momentos muito alegres aqui. Coisa que eu não posso dizer de outros festivais, que eu até evito ir. São aborrecidos, chatos, entendiantes. A cidade tem uma dívida com o festival. A vizinha Canela pode até ser mais bonita, com belas paisagens, mas todos vêm a Gramado. Eu comparo sempre com Cannes. É uma praiazinha no meio de 40 praias, que se tornou mundialmente famosa por causa do festival. Aqui, o plateia sempre reage ao filme, o que não ocorre em Brasília, por exemplo. Lá, a reação é sempre política, depende do filme defender um ponto de vista. Nesse quesito, eu acho Gramado um festival mais puro. Os anos ruins foram reflexo do cinema brasileiro como um todo.
G1 - A curadoria analisou 101 filmes para a competição de longas-metragens nacionais. Dessa amostra, é possível fazer um balanço da produção brasileira em termos de qualidade?
Rubens - Esse ano foi infeliz. O primeiro sucesso do ano foi "E Aí... Comeu?" (de Felipe Joffily, que já foi visto por mais de 2 milhões de pessoas). Todas as outras bilheterias foram fracas. "Heleno"e "Xingu" foram um tiro na água. Até agora, não temos um grande filme brasileiro do ano. Por sorte, tivemos filmes bom o suficiente para preencher os oito concorrentes. Mas ali, em cima. Se faz muito filme no Brasil, mas a maioria é ainda caseiro. Hoje é muito fácil fazer cinema, mas nem todo mundo é cineasta. Tem que ter mão. Selecionamos o que há de melhor. Por sorte, tem comédia, tem musical, tem drama, tem filme de arte.
G1 - Já existe alguma conversa para manter essa curadoria para 2013? E se for esse o caso, que mudanças vocês podem implementar.
Rubens - Ainda não há nada definido. Ser der certo, gostaria que a definição saísse logo. Uma coisa que eu vou sugerir é que permitam à comissão convidar filmes. Nesse momento, o regulamento não permite. Só entram na competição os filmes que foram inscritos. Por exemplo, o Ugo Giorgetti tem um filme novo ("Cara ou Coroa", com previsão de lançamento para o mês que vem) que eu já vi e é muito bom. E não está aqui porque já havia passado a data da inscrição. Por causa do regulamento, às vezes deixamos de ter um filme bom. O ideal, seria ser como Cannes. O festival pergunta para os diretores: "Fulano, você está fazendo um filme? Então guarda para estrear aqui". É relacionamento. É assim que os festivais ganham uma cara, é um trabalho de longo prazo.
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