Pesquisador cataloga 270 grupos musicais que atuaram em Mossoró

defile_civicoEssa é para amante de música afeito à nostalgia. A história musical de Mossoró está sendo resgatada pelo músico Marcos Batista de Souza, professor de música da Escola de Artes de Mossoró e trompetista há 27 anos da Banda Municipal Artur Paraguai. Ele conclui pesquisa sobre grupos musicais mossoroenses e já catalogou cerca de 270 agrupamentos que atuaram em Mossoró nos últimos 140 anos, inclusive, com registros fotográficos.

Formado em música pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (Uern), Marcos Batista conta que o interesse pela história da música mossoroense começou em casa, ainda menino, ouvindo as histórias do pai, João Batista de Souza, "Maestro Batista", referência da música de Mossoró por décadas, falecido em 2007, de quem herdou a paixão musical.

"Ele sempre gostava de contar histórias dos grupos musicais, de relembrar acontecimentos diversos dos grupos dos quais fez parte, de músicos com quem tocou, e isso sempre me interessou", diz Marcos, que decidiu se aprofundar na história quando da conclusão da Licenciatura de Música na Uern, em 2009, escolhendo como tema da monografia "Músicos Barbeiros de Mossoró: Um Resgate Histórico".

O Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) abordou a coincidência de 16 músicos mossoroenses que trabalhavam em barbearias na cidade. Na pesquisa para produção da monografia, descobriu quanto era pequeno o registro da história da música mossoroense, apesar do esforço da professora Dalva Stella Nogueira Freire, filha de maestro e que hoje dá nome ao Conservatório de Música da Uern e que lecionou música na Escola Normal de Mossoró e na Universidade do Estado do Ceará (UECE).

Dalva publicou registros sobre músicos mossoroenses em livro, em 1957, semelhante ao que faria periodicamente décadas depois José Ferreira Filho, "Ferreira da Gazeta", falecido em 2010, trabalhador de jornal e músico que publicava perfis de músicos mossoroense aos domingos, na Gazeta do Oeste. Apesar da contribuição histórica e da inspiração que os dois serviram para Marcos Batista, ele concluiu que a memória musical mossoroense merecia mais.

Certo dia, em frente ao mar de Tibau, teve um lampejo. "Comecei a pensar em grupos musicais de Mossoró e passei a escrever o nome de alguns que vinham à mente na areia da praia. De repente, tinha escrito 40 nomes, fiquei impressionado e decidi pesquisar sobre eles", conta Marcos, que no decorrer do trabalho, disse ter ficado surpreso com a quantidade e a diversidade de ritmos dos grupos musicais.

Compõem o registro bandas musicais, bandas-bailes, grupos de choro, bandas marciais, grupos sacros, jazz, orquestra, regionais (forró pé de serra) entre outros. "Minha intenção é acrescentar ao trabalho de Dalva Stella, principalmente fotos, já que temos um acervo fotográfico rico, composto mais de 200 fotografias, e se aprofundar sobre os grupos, pois Ferreira da Gazeta escrevia sobre pessoas", conta.

Bandas-bailes marcaram época nos anos 70 e 80
A pesquisa de Marcos Batista de Souza resgata grupos mossoroenses do início do século passado, como "A Charanga", de 1906, passando pelo Trio Mossoró, que fez sucesso com forró pé de serra no Rio de Janeiro nos anos 1950 e 1960, disseminando o nome da cidade para todo o Brasil, e por bandas-bailes que foram sensação em Mossoró e região mais recentemente, nos 1970 e 1980, como The Pop Som, mais tarde Elo Musical, Os Bárbaros, Andersom Musical.

Destaque também para o Grupo Vina e Banda de Música da Assembleia de Deus (hoje, Orquestra Verbus), entre outros. Segundo Marcos, muitos grupos musicais de qualidade foram desfeitos ao longo do tempo, porque não eram administrados como empresas, ao contrário de hoje, quando há mais profissionalismos, e cita como exemplo dessa filosofia o Grupo Vina.

Ele não sabe precisar quantos grupos musicas estão hoje em atuação em Mossoró. "Mas, sei que são muitos, e existem músicos com muito talento e que estão fora do circuito da noite, até por opção. E a diferença de hoje para antigamente é que hoje existe mais profissionalismo, a música não é hobby nem encarada com boemia", comenta.

Segundo Marcos Batista, o campo da história musical de Mossoró é muito amplo, e recomenda que outras pessoas também pesquisem, abordem festivais, concursos, encontros musicais, atrações nacionais na cidade, por exemplo. "E isso tem que ser feito com urgência para que informações valiosas não sejam perdidas, porque muito, aliás, já foi perdido", alerta.

Pesquisa de Marcos Batista será transformada em livro brevemente  Quando começou a pesquisa para o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) do curso de Licenciatura em Música da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (Uern), Marcos Batista de Souza decidiu que não seria apenas uma monografia para obter nota, mas um resgate histórico de parte do cenário musical de Mossoró das últimas décadas.

Tanto que o trabalho intitulado "Músicos Barbeiros de Mossoró: Um Resgaste Histórico" não parou na academia. O autor deu prosseguimento à pesquisa e se aprofundou no tema, somando outros quatro personagens aos 16 profissionais de barbearia com atuação musical. Marcos pretende editar o trabalho em livro e lançá-lo em breve.

Conversas nesse sentido estão adiantadas com a Coleção Mossoroense. Mas, o livro também terá considerações sobre a história do cenário musical de Mossoró, cenário que, segundo o autor, é bem diferente do atual. A principal evolução, na opinião dele, é a mudança de mentalidade dos músicos, que hoje têm uma postura mais profissional.

"Antigamente, os músicos tocavam, mas tinham uma profissão, não sobreviviam apenas de música. E também tinha a questão da boemia, muitos tiveram problema com álcool e a carreira prejudicada por isso", conta Marcos Batista, acrescentando que, hoje em dia, o ambiente não permite mais profissionais boêmios, e os músicos têm essa consciência.

"Hoje em dia, o perfil do músico mossoroense é de chegar na hora marcada, se apresentar, fazer seu lanche depois e ir para casa", diz Marcos, que considera essa postura motivo para longevidade de alguns artistas e grupos, como o Grupo Vina, que tem como característica exercício de filosofia empresarial e de planejamento.

A falta de profissionalismo, segundo ele, provocou o fim de vários grupos musicais de talento e sucesso do passado, além de problemas comuns do meio, como o cansaço decorrente de trabalhar à noite e estrelismos. Outra diferença de hoje apontada pelo pesquisador é que os músicos estão mais estudiosos. "Hoje, ou o músico estuda bastante para se posicionar no mercado ou é substituído", comenta.

Domingo, 19 de Agosto de 2012 às 00:00 / Por: Redação  / jornal : O mossoroense.

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