"Viver Sem Tempos Mortos"



Em Viver Sem Tempos Mortos a grande atriz brasileira faz uma homenagem e resgata para as novas gerações a personalidade marcante da escritora, pensadora e ensaísta francesa, que ao lado de Jean-Paul Sartre criou o Existencialismo no século passado

Plateia do Teatro Raul Cortez lotada (com cadeiras extras). Informes iniciais quase sussurados. Silêncio respeitoso. Pronto, o rito do teatro estabelecido. Ouvem-se somente passos. Uma cadeira, focos de luz das duas extremidades do palco e outro na cadeira. Fernanda Montenegro entra, senta-se. Viver Sem Tempos Mortos começa. 

São 60 minutos, mas o bastante para Fernanda de Beauvoir ou Simone Montenegro discorrer uma vida. E não uma vida qualquer. A trajetória da vida de uma mulher intensa. Da criança de uma família burguesa da França que, com a dificuldade financeira dos pais, tinha como distração somente os livros.  Estes, companheiros inseparáveis, que contribuíram para a formação de Simone de Beauvoir, uma professora, escritora, ensaísta que revolucionou o pensamento da Humanidade em meados do século 20.

Só a magia do teatro possibilita esse mistério: uma atriz, numa estrutura mínima e simples, faz com que uma imensa plateia em apenas uma hora possa mergulhar e viajar no tempo, conhecendo a rica e polêmica existência de Simone de Beauvoir, “uma das pensadoras mais influentes do século 20”, como a própria Fernanda a define.

A mulher que se vê retratada no palco não é a idealizada ou ficcional. Tendo como base as correspondências e escritos de Simone de Beauvoir, Fernanda compilou os relatos da escritora e com a ajuda do diretor Felipe Hirsch concebeu o espetáculo, que é a radiografia da escritora, com suas paixões, seus amores, sua dor e contradições:
“A peça oferece uma oportunidade para que o público jovem conheça um pouco mais sobre a paixão, a energia, a audácia e as contradições humanas de Simone de Beauvoir”, explica a atriz, que confessa numa entrevista ao jornal Folha de S.Paulo sua identidade com a homenageada:

Fernanda Montenegro dá vida à Simone de 
Beauvoir

“O existencialismo ditou minha vida. Concordo com o pensamento libertário dela. Creio no que digo em cena”.
E é isto o que o público vê e sente. Com uma interpretação limpa, sem grandes inflexões, Fernanda sentada o tempo todo encarna no palco a escritora francesa. Prova que para se contar uma boa história não é necessário requinte ou ostentação. Bastam sensibilidade e talento, que Fernanda Montenegro possui em abundância.

A atriz divide a responsabilidade da montagem com o diretor Felipe Hirsch, “um companheiro ideal para essa viagem”. Mas não posso deixar de destacar ainda a preponderante participação de Daniela Thomas na direção de arte e a tocante iluminação de Beto Bruel. Fernanda também deixou o espetáculo mais acolhedor por ter definido a singela seleção musical, com belas canções francesas.

Ovacionada ao final, a atriz comove o público ainda mais. Ao agradecer, diz que só São Paulo tem organização para manter um teatro daquele porte e uma plateia participativa e calorosa. Fala de sua alegria em voltar à cidade e se apresentar no teatro que leva o nome do amigo, Raul Cortez, com quem dividiu a cena em diversas vezes e também no filme O outro lado da rua, último trabalho do ator. Dedica o espetáculo de estreia a ele!

A plateia novamente aplaude e reverencia dois de seus maiores talentos na arte de interpretar.
 
Roteiro: Viver Sem Tempos Mortos. Texto: correspondências de Simone de Beauvoir organizadas por Fernanda Montenegro. Direção: Felipe Hirsch. Direção de arte: Daniela Thomas. Iluminação: Beto Bruel. Seleção Musical: Fernanda Montenegro. Pesquisa e compilação: Newton Goldman. Direção de Produção: Carmen Mello. Fotografia:
 
Por: Maurício Mellone, para o site Favo do Mellone

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