Novo espetaculo coma maestria de Marco Nanini
Marco Nanini
Ator celebra 25 anos de parceria com Guel ArraesMarcando uma parceria de 25 anos, essa é a terceira vez que Nanini e Guel encontram-se no palco. A primeira incursão teatral da dupla, “O Burguês Ridículo” (1996) trazia uma adaptação de textos de Molière e, mais recentemente, em 2007, o diretor assumiu a produção artística de “O Bem Amado”, que recuperou a obra teatral original de Dias Gomes e originou um longa homônimo.
Neste monólogo, um homem apresenta um organograma complexo e irônico sobre as possibilidades de sucesso e fracasso na angustiante missão de pedir um aumento de salário. Em uma espécie de palestra de autoajuda, o protagonista apresenta um manual combinatório de probabilidades para a hora em que vai procurar o seu chefe e pedir o esperado aumento.
No que esse espetáculo difere dos demais que você já fez?
Esse espetáculo nasceu de uma sugestão que o Guel Arraes me trouxe em 2001 e que sugere um exercício de integração entre ator e diretor. Foi isso que mais me estimulou nesse projeto, justamente por não se tratar de um espetáculo convencional, é uma palestra. A gente demorou a montar por queríamos manter esse exercício no palco. Não é uma peça comum, comercialmente falando, então a gente não encontrava uma oportunidade para fazer. Depois de um tempo, pensamos em montá-la de uma maneira simples no Galpão Gamboa. Começamos a ensaiar e resolvemos inscrever o projeto em editais e fomos selecionados para três. Foi quando vimos a oportunidade de montá-lo sem abandonar a ideia inicial do exercício entre ator e diretor. Essa peça não tem começo, meio e fim, mas procuramos dar uma curva dramática para que o espectador tivesse a visão de uma história.
Sua parceria com o Guel vem de longa data. Como surgiu essa dupla?
A gente se deu conta no início desse projeto que estamos completando 25 anos de parceria. Tudo começou no “TV Pirata” e depois fizemos outros trabalhos na TV, como o “Brasil Especial”, que abordava temas da literatura brasileira adaptado para televisão. Um destes temas foi “A Comédia da Vida Privada”, de Luis Fernando Veríssimo, que deu tão certo, que acabou virando outra série. A partir daí, a gente tem se encontrado, mas nunca premeditadamente. Não é uma coisa que a gente procura avidamente, mas quando a oportunidade surge, adoramos, temos afinidade. O Guel é muito objetivo criativo, estudioso e exigente. Gosto de ter disciplina no trabalho porque ao invés de me prender, me liberta, fico mais criativo.
Você e o Guel procuram popularizar obras brasileiras e internacionais. Isso é realmente uma preocupação de vocês?
É uma preocupação nossa transformar o espetáculo em uma coisa que seja assimilada por uma quantidade maior de espectadores. Embora esta não seja uma peça popularesca, tem um humor sutil e refinado. O humor é um tempero como o sal, se você coloca demais fica salgado, se você tira, fica insosso. A gente não abre mão do humor, o dosamos na medida em que julgamos correto para que ele não fique excessivo e nem de menos.
Você ganhou diversos prêmios com “Pterodátilos”. Existe alguma pressão ou expectativa para que seu próximo trabalho no teatro seja tão bem sucedido?
Procuro fugir disso porque é ilusório, você nunca sabe quando um espetáculo vai cair no gosto de alguém ou não. Já fiz peças que supunha que não iam ser acolhidas pelo público, como “A Morte de um Caixeiro Viajante”, que é excepcional, mas tem uma duração longa e me surpreendi com o sucesso que fez. O próprio “Pterodátilos”, por ser um texto corrosivo e ter um humor violento, foi uma surpresa para mim. Não busco projetos pensando em agradar. Claro que gosto que façam sucesso, mas busco aquilo que me toca emocionalmente para que eu possa estar pleno. Se for fazer algum trabalho pensando na repercussão, ele já está comprometido. A repercussão é uma consequência, tanto para o bem, quanto para o mal. Esse daqui, por exemplo, não tenho segurança nenhuma de como será recebido.
Você já passou pela situação de ter que pedir um aumento?
Claro que essa situação se apresentou, mas quando trabalhei em um hotel e em um banco, era muito garoto, comecei aos 13 anos, muito ingênuo, então não pedi aumento. Já como artista, isso surgiu, mas fico muito constrangido porque na minha profissão, dependo muito de tipo físico, tenho que me adequar ao trabalho, então é chato eu mesmo discutir isso e ficar dizendo que meu trabalho vale. Felizmente, tenho uma estrutura que faz isso por mim, então não preciso ouvir de ninguém que sou gordo, magro, feio ou valho mais ou menos por algum motivo. Espero nunca ter que passar por isso.
Qual a importância do Galpão Gamboa na sua vida?
O Galpão Gamboa é fundamental para mim. Ele se transformou no que é hoje sem que houvesse planos para isso. Estava buscando apenas uma sala de ensaio quando descobri esse lugar na Gamboa, que não é imenso, mas é grande para ser uma sala de ensaio. Fui ocupando o local aos poucos, sem compromisso. Começamos a abrir espaço para outras pessoas ensaiarem seus espetáculos e o projeto foi crescendo. Hoje, temos várias apresentações de peças, o lugar está muito bonito. Recebi esse presente aos 60 anos. Quando você acha que a vida não tem mais nenhuma surpresa, surge algo assim, que abre uma nova perspectiva. Foi importante porque mudou tudo na minha rotina. Tenho o maior carinho por aquilo, me envolvo demais e recebo em troca uma energia imensa que as pessoas que frequentam trazem. Descobri uma nova vida aos 60 anos, o que pode ser melhor?
Fonte : Globo teatro
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