A seca de 2012
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Secas, fenômeno climático que
aterroriza as populações interioranas há tempos imemoriais, vetoras de
catástrofes, inimiga pungente da qualidade de vida, artifício vergonhoso de uma
indústria mais que secular.
A história das secas no nordeste
brasileiro é antiga. Inúmeros registros descreveram com linhas fortes a ação
inexorável da natureza sobre o homem do semiarido, pois diversas trouxeram o
signo de tragédias indescritíveis.
A calamidade que atingiu o
nordeste brasileiro quando da grande e inesquecível seca de 1877-1879, a qual
na definição de Rodolfo Teófilo caracterizou-se por ter sido um dos mais
castigante fenômeno de estiagem que atingiu a região nordestina,
responsabilizou-se só no Ceará pela morte ou pela emigração de mais de 300 mil
pessoas.
O ano de 2012 iniciou-se com uma
incógnita: chuvas cairão para alento do heróico povo do semiarido? Poucos
milímetros estão sendo registrados, mesmo assim impossíveis de garantir que a
agricultura de subsistência abasteça com o excedente os centros urbanos, tendo
em vista que o agrobusiness impera de forma avassaladora visando o mercado
externo, com toda tecnologia de primeiro mundo que desdenha a necessidade da
maioria da população que depende da química dos céus a fim de garantir o
sucesso do plantio.
Seca lastimável, providências
tétricas e patéticas que nem sempre cumprem papel democrático em assistir o
imenso somatório de desafortunados que em um passado distante comoveram Jesuíno
Brilhante, fazendo-o agir de forma Robinhoodiana nos sertões potiguares e
paraibanos à base da força coercitiva dos seus bacamartes que ousaram com
coragem a apontar bem no coração dos agentes a serviço da indústria das secas.
A calamidade que se agiganta,
trazendo dia após dia agruras à população, provocadas com a seca de 2012, está
sendo comparada ao que foi observado há trinta anos quando da indescritível
estiagem que teve inicio em 1979 e adentrou de forma intolerável, desumana e
horripilante até meados da década seguinte do século passado.
Dramático observar que a poesia
de Patativa do Assaré, imortalizada pelo expoente maior da música regional
nordestina, continua atualíssima. A fuga em direção a centros mais
hospitaleiros do ponto de vista socioeconômico, de geração de emprego e renda,
embora eivado de preconceitos, ainda continua a afligir mentes e corações
daqueles que são por natureza apegados à terra, possuidores de relação telúrica
extraordinária com o meio. Cotidianamente milhares de nordestinos desembarcam
na porção mais rica da nação em busca de melhores condições de vida. Em
inúmeros casos encontram condições de existência piores do que deixou em seu
torrão natal. Subemprego e marginalidade passam a integrar de forma corriqueira
as paisagens nas quais se inserem.
Triste constatar em nossas feiras
que a lei da oferta e da procura rege as relações comerciais. O feijão, símbolo
da agricultura familiar, alcança preços estratosféricos a cada dia que passa,
frutos da indisponibilidade do produto em razão da ausência de chuvas.
Penoso é saber que a falta de
critérios e de humanismo com a região nordeste em tempos de crises provocadas
pelo drama climatérico ainda são constantes e tidos como naturais por aquela
minoria que usurpou o poder e todas as benesses enquanto legados meticulosamente
trabalhados desde a nossa formação socioeconomica.
Por : José Romero Araújo Cardoso,
geógrafo, professor-adjunto do departamento de geografia do Campus Central da
UERN.
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