Artista se solidarizam com o projeto "MENINOS SEM DONO"


O Pessoal Do Tarará Olá, Américo Oliveira! Querido e bravo companheiro! Se você for taxado de alguma coisa, também quero ser taxado contigo. Me solidarizo com você, com o teu vídeo, com o teu trabalho no documentário "Meninos sem dono", pois também fiquei muito chateado com o que aconteceu com o teu trabalho, que foi tratado com a maior falta de respeito pela TCM, TV que até hoje, eu não tinha muito do que reclamar, e até falo que é uma TV que deve orgulhar o mossoroense pela qualidade que tem, pelos profissionais competentes que estão lá. Antes de qualquer coisa, não me refiro, em nenhuma hipótese à premiação, mas ao fato do Festival ter sido interrompido de forma desrespeitosa para com as pessoas que tanto lutaram para inscrever seus trabalhos, e valorizar a programação da TCM, os seus 10 anos. Edileusa é sabedora disso, e acredito que a mesma não deve ter nada com isso, e acredito, sem querer fazer defesa, que a mesma também não deva ter gostado, pois foi uma das principais pessoas empenhadas para o sucesso do Festival. A TCM falhou feio em não exibir o documentário Meninos sem dono, de Américo Oliveira. Falhou muito feio. O dono ou dona da ordem para a interrupção tomou a iniciativa com total falta de sensibilidade naquele momento, sem pensar no que Américo e sua pequena mas brava equipe correu para produzir o trabalho. Me sinto atingido também, porque poderia ter sido com o meu filme também, com qualquer um que se inscreveu. Me sinto atingido, também, porque sou artista, e neste caso, sempre somos nós que perdemos, em função de A ou B.

Eu sou testemunha da dedicação de Américo ainda quando o documentário era só uma idéia na sua cabeça. Lembro o mesmo, em nossa sede, pedindo colaboração para gravar. A empolgação era contagiante, e principalmente, o assunto do maior interesse para a nossa sociedade. O público que esteve lá também não queria ver Festival de Curta nenhum, e esta é a grande verdade. A TCM falhou também em querer que secretários da Prefeitura, empresários mossoroenses, colunistas sociais, aparícios e aparícias prestassem atenção no que os artistas tinham a dizer com os seus curtas, com os seus trabalhos. Só sabe o valor de uma obra de arte uma sociedade educada, e a maior parte das pessoas que estavam ali não estavam interessadas em ver os trabalhos. Vejo o valor de nossas obras, particularmente no meu e de Américo (os filmes que colocamos lá – “Matei, fui em casa trocar de roupa e voltei para assistir a perícia” e “Meninos sem dono”), como fundamentais para se discutir neste momento. O meu curta (Matei...) trata da violência que assola a nossa cidade e ninguém faz nada para mudar isto. Coloco um advogado para ver a violência de longe, sem se importar com nada, até que um dia ela entra em sua própria casa. Enquanto era exibido o meu curta olhei para as pessoas bebendo, sem interesse algum, e ao mesmo tempo pensei que aquelas pessoas representavam o advogado que eu coloquei na história, tão bem interpretado por Antônio Marcos. Em uma das cenas a televisão divulga um assassinato em uma favela, por questões de drogas, e quando volta a câmera para o advogado, ele está roncando alto em seu sofá. Um ou outro beberrão dava uma olhada discreta no telão e ria, não sabendo que estava rindo de si próprio, bebendo, roncando, enquanto nossa sociedade sofre com a violência. Aí chego no teu documentário, que nem foi exibido, e vejo como os dois se completam, mesmo a gente não tendo combinado nada. Seu trabalho mostra o depoimento cruel de crianças envolvidas com a droga, falando de camisa na cara para não ser reconhecidas, também a lei não permite. Quando vi aquela cena me senti envergonhado por ser tão pequeno e não poder fazer muita coisa. Quantos naquela ocasião, caso seu filme tivesse passado, teriam se envergonhado? Tenho certeza que muito poucos.

Mas amigo, companheiro Américo, nos dispomos, o nosso grupo, a colaborar no que for preciso. Estamos à disposição porque sabemos que Mossoró precisa do seu documentário mais do que notícias da noite de ontem. Depois apareça para descansar os pés em nossa sede, pois aqui assistiremos aos trabalhos, debateremos, e seguiremos construindo uma sociedade mais justa. As grandes mudanças da história nasceram de artistas que colocaram seus ofícios em função de um futuro melhor. E como diz meu mestre Amir Haddad, o “futuro é construído no presente”, e isto você está construindo. Vamos exibir o teu documentário aqui na Baixinha. Armamos um telão na praça, e mobilizamos a comunidade para debater isto. Acredito que a Escarcéu pode fazer a mesma coisa no Alto da Conceição. Também vamos levar para Apodi, para debatermos isto. O povo precisa ver os Meninos sem dono, e as esperanças que traz aquele trabalho, através de pessoas que se recuperaram, como o meu professor José Romero de Araújo Cardoso. Está mostrando a criança sem dono mas aponta caminhos, e nisto reside a importância de teu trabalho, que deveria ter sido visto ontem à noite, e não cortado de forma desrespeitosa pela direção da TCM.

Espero, particularmente, que a TCM, ao tomar conhecimento da sua indignação e de todos que se solidarizam pelo ocorrido, em momento de total falta de sensibilidade, não venha a público se defender, inventar desculpas, ou até mudar a culpa e se fazer de vítima, como fazem muitos administradores que estiveram por aquele espaço ontem, mas que peça desculpas, não só para você, mas para todos os participantes do Festival, e para os inúmeros artistas e amigos que ficaram em casa para assistir o Festival, e ficaram se perguntando o que estava acontecendo, que ninguém entendeu. Desta forma se mostrará grande, ao reconhecer o erro. Mas a opção é da TCM, e a ela cabe decidir, como decidiu desrespeitar as pessoas que correram tanto para contribuir com o Festival da própria emissora.

Ao mesmo tempo deixo o meu reconhecimento para com a TCM de quanto tem aberto espaços aos artistas mossoroenses para exibir seus trabalhos. Mas uma coisa não tem nada com a outra. A TCM pode se fazer grande, ou escolher o caminho que um jornal aqui na cidade já fez conosco: nos detonar, usar seu poder de comunicação para sair bem na fita, mesmo que esculhambe com nós artistas. Reconhecer erros é um grande caminho. E a TCM errou feio!!!! Não sabemos se ainda teremos algum espaço para divulgação de nossos trabalhos na TCM depois destas palavras, mas caso não, quero agradecer, de coração, por todos os momentos em que fomos chamados, e em muitas vezes visitados em nossa própria sede, para falar de nosso trabalho. As palavras são sinceras.

Dionízio do Apodi
Ator e Cidadão Brasileiro (igual a Américo)

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