Tempos difíceis estes de 2014.


Tempos difíceis estes de 2014. 

Semana passada tivemos um acidente em nossa sede mas apenas com danos materiais. Todo mundo com saúde para trabalhar e reconstruir, isso é o que vale. Material a gente trabalha e junta de novo, e se não juntar, não tem problema, pois o mais valioso está conosco. Eis o motivo de termos passado tantos dias longe disto aqui, do debate, da amizade e principalmente da luta por dias melhores. 

Aprendi com minha mãe que ao invés de lamentar é melhor levantar e começar a trabalhar. Isso faz a diferença. Mas por muitas vezes esta vontade não vem por nós mesmos, precisamos de outras pessoas para que nos estendam a mão, para, pelo menos, nos equilibrarmos. Queremos agradecer, imensamente, ao companheiro Augusto Pinto, juntamente com seus alunos do SESC, do projeto Leituras em Cena, que mantiveram a programação em nosso espaço mesmo sabendo que não iríamos poder atendê-los da forma que o projeto merecia, pelas impossibilidades físicas de nossa sede. Foram muitas mãos estendidas em nossa direção.

Em Mossoró, naquele momento, na semana passada, talvez existissem outros espaços mais adequados, mas Augusto enxergou que a manutenção da programação do SESC poderia ser o recomeço de nosso trabalho no espaço, e foi. Talvez se não fosse sua iniciativa ainda estivéssemos lamentando, sem coragem de entrar em nosso espaço, mas pela fala de Augusto quando viu os escombros, dizendo que queria fazer o seu trabalho ali, não nos deixou outra alternativa, ainda bem, a não ser trabalhar muito para reconstruir. Em dois dias apenas demos uma condição mínima para o projeto Leituras em Cena, composto por muitos jovens artistas, que neste período de tanta "fantasia teatral" puderam ver gente de teatro suando para colocar o espaço à disposição deles. 

Recentemente um jovem ator me pediu para fazer uma relação de livros que o ajudassem a ser um grande ator. Eu falei que era complicado um livro para fazer isso. Que pena que este jovem ator não estava presente vendo tudo o que aconteceu nestes dias. Este encontro de gente se doando por uma causa nos mostra mais coisas para o nosso teatro do que as teorias dos livros. Isto que eu falo não tem nos livros. Os livros estão lá, são importantes até, sim, mas não fazem teatro.

Recentemente um grande mestre de teatro, que gosto muito, disse que talvez nestes tempos de tanta técnica para teatro o que menos interessa sejam as coisas que nos ensinam para fazermos teatro. Talvez este seja o tempo em que precisemos desaquecer, desalongar, fazer tudo ao contrário do que o teatro tem nos ensinado, ver as coisas pelo avesso. Nossa sede ficou pelo avesso, sem condições de fazermos teatro ali, mas vimos, fizemos e tivemos muito teatro ali.

Teatro se faz coletivamente. No teatro o mais importante é o outro MESMO.
Há muito para reconstruir em nosso espaço físico, mas o melhor é que as pessoas que fazem este espaço também estão se reconstruindo.

Excepcional domingo para os amigos e para as amigas.
Abraços de Dionízio do Apodi.

Foto: Augusto Pinto cercado por jovens atores do projeto Leituras em Cena, após apresentação em nossa sede.

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