Bráulio Tavares ou Trupizupe, o Raio da Silibrina.
Entrevista ao Diário de Pernambuco.
Ele nasceu em uma família cheia de jornalistas e poetas, em Campina Grande (PB), o ano era 1950. Estudou cinema em Minas Gerais, ciências sociais na Paraíba e hoje mora no Rio. Fez de tudo. Tocou em bandas de rock, traduziu obras de escritores famosos, foi roteirista dos Trapalhões, compôs músicas, organizou festivais de repentistas, escreveu peças de teatro e publicou mais de 10 livros. Bráulio Tavares é um defensor nato da cultura nordestina e, hoje, está no Recife. A partir das 19h, ele participa do debate Forró: passado, presente e futuro, ao lado de Chico César, do secretário de cultura Fernando Duarte e do jornalista José Mário Austragésilo. O encontro é no Centro Cultural dos Correios (Bairro do Recife), com entrada franca. No sábado, participa do Circuito de Forró, repente e poesia, no Mercado da Madalena, a partir do meio-dia.
Entrevista >> Bráulio Tavares
Chico César, secretário de Cultura da Paraíba, proibiu a liberação de dinheiro público para eventos destinados ao “forró de plástico”, o que você acha dessa polêmica? O forró tradicional está em extinção?
Existe na Paraíba uma lei estadual prevendo esse critério de apoio para as festas juninas. Chico César apenas tomou a iniciativa de pôr a lei em prática. Eu sou a favor, porque se trata de uma batalha desigual, de milhares de pequenos trios de forró pé-de-serra enfrentando essas bandas que cobram cachês de R$ 50 mil, R$ 100 mil ou mais, sugam todas as verbas dos eventos, e tocam uma música que não é forró, é uma mistura de lambada, carimbó, etc. Não defendo a extinção dessas bandas, mas acho que o poder público pode intervir e corrigir essas distorções. Todo governo age para regular um mercado que está em desequilíbrio devido a monopólios, trustes, etc. Pagamos aos governos para isto. O forró tradicional não está em extinção, está apenas colocado em segundo plano nas festas juninas, um dos poucos momentos em que esses músicos faturavam maior número de shows e melhores cachês.
O nordestino está perdendo sotaque, referências tradicionais... a identidade. É culpa de quem? Da tevê? Da globalização? Não parece a história dos índios e os espelhos dos brancos ?
Todo mundo muda de sotaque, de referências, o tempo todo. Nordestinos, cariocas, paulistas, norte-americanos... Não acho que caiba a palavra “culpa”. Nós desencadeamos fenômenos fortíssimos, como as telecomunicações (rádio, TV, internet) em cima de uma população muito comunicativa, sequiosa de informação. Claro que vai haver mudanças radicais e imprevisíveis. A questão dos espelhos e dos índios não se aplica a isso. Acho que se aplica a certas situações em que um nordestino se envergonha de ser nordestino (jeito de falar, hábitos, cultura, etc) e fica tentando imitar os hábitos de pessoas de outra origem.
Para você, o que há de negativo e de positivo na invasão da internet nos lares do Sertão?
Acho positivo que qualquer comunidade tenha mais acesso a informações variadas para escolher, entre elas, as que mais lhe interessam. O lado negativo é a manipulação das mentalidades para transformar a pessoa num robô consumista. Mas isso não afeta só o Sertão, afeta também Higienópolis (SP) e a Vieira Souto (RJ).
Você e Glauco Mattoso são os últimos remanescentes da Antologia pornográfica, livro lançado na década de 1980, nos últimos suspiros da ditadura. Fale um pouco do livro e também do Movimento de Arte Pornô... ele teria impacto hoje?
Eu e Glauco estamos vivos e atuantes, mas eu me afastei um pouco desse estilo de poesia. Não por ter algo contra, mas pelas circunstâncias, tenho escrito pouca poesia nos últimos anos. Outras pessoas continuam atuantes, como a Gang do Prazer (Cairo e Denise Trindade) que faz recitais aqui no Rio há muitos anos. O impacto hoje é menor porque o palavrão é liberado.
O que significa poesia marginal? Quando e como decidiu encarar a poesia como forma de expressão?
Poesia marginal foi um rótulo momentâneo. Cada um era marginalizado (não publicava nas grandes editoras) por diferentes motivos. Depois que vim morar no Rio descobri que essa palavra tem aqui uma carga negativa muito forte. Auto-intitular-se poeta marginal era como dizer: “Sou um poeta assassino, um poeta estuprador”. Pegava mal em muitos momentos. Eu sou de uma família de poetas pelo lado paterno, lá em casa era Castro Alves no café da manhã, Augusto dos Anjos no almoço e Cecília Meireles no jantar.
Você não acha que o cinema brasileiro está ficando hollywoodiano demais? Nunca mais surgirá algo como o Cinema Novo, com linguagem própria?
O cinema segue fórmulas para conquistar público, e nesse ponto está se tornando parecido com a televisão que, antes de criar um projeto, pesquisa o que pode dar mais certo. Tem um lado hollywoodiano na forma de narrar, porque nunca se publicaram tantos manuais de roteiro. Todo mundo escreve de acordo com o bê-a-bá da cartilha de Syd Field, de McKee, de fulano, de sicrano... Os filmes ficam todos parecidos uns com os outros e nenhum deles fica parecido com Chinatown. O próximo Cinema Novo surgirá na internet e será disseminado de forma viral em notebooks, palmtops, iPads, etc. Será um cinema em tempo real.
Você chegou a escrever textos para os Trapalhões na década de 1980, auge do grupo. Como foi essa experiência?
Muito boa, me permitiu entender melhor como a tevê funciona, como as coisas são feitas, como são preparadas. E as reuniões para discutir os esquetes eram muito divertidas, horas de risadas, que não acabavam nunca. Quinze humoristas em volta de uma mesa, a tarde inteira, o que sai ali não estava no gibi.
Dá para viver com o dinheiro que ganha de direito autoral?
Só de direito autoral, não dá para viver. Tenho mais de 20 livros publicados, e umas 60 músicas gravadas (num total de umas 100 gravações diferentes). Vivo de fazer palestras, escrever para jornais e revistas, traduzir livros, fazer roteiros para TV e cinema.
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